Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

terça-feira, novembro 11, 2003

jeitosa

A criança colheu com a sua pequena mão um arbusto caído nesta escura tarde de outono. Pegou nele, observando-o com cuidado, recorrendo ao olhar inteligente que caracteriza as crianças em estado puro de observação. Apertou-o com doçura entre os seus frágeis dedos. Levou-o para casa. Como a uma árvore de fruto.

A sua missão era entregar a caixa dos pequenos fios em casa do seu amado primo. Era uma coisa de infância, esta paixão. Iniciara-se quando tinham três, quatro anos, na cumplicidade das tardes passadas na sala da avó. Entre eles descobriram o que difere os meninos das meninas. Entre eles tocaram pela primeira vez a frescura de uns lábios. Entre eles prometeram segredos, como só trocam os amantes. A sua missão era entregar a caixa dos pequenos fios em casa do seu amado primo. Estacou perante a porta. Olhou o chão.

Guardado dentro da gaveta, era aí que esperava que ele crescesse. Para isso lia-lhe histórias todas as noites, às escondidas da mãe e do pai. Mesmo num dia em que o seu irmão mais novo lhe perguntou o que estava ela a fazer lendo assim uma história, para cima da mesa, ela não lhe disse nada do segredo, o segredo que gostava de guardar só para si. Tinha medo que não acreditassem que tinha trazido uma árvore de fruto para dentro do quarto, frágil servo em frágeis mãos. E agora saltam maçãs de dentro da gaveta.

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