tu sentada no café, a fazeres essa cara de princesa automática, e o gajo sentado ao teu lado, armado em ricky martin, a fazer-te olhinhos através do copo de sagres preta. tu não lhe ligas nenhuma, nunca lhe poderias ligar nenhuma, ele é exactamente o oposto daquilo que tu gostarias de ter esta noite (e em todas as noites que te restam pela vida toda). acho que tu nem o viste entrar, ele veio, mediu-te toda com aquele olhar de cabrito por assar, sorriu ao de leve por dentro e veio sentar-se ao balcão, quase ao teu lado. tu continuas a olhar para a televisão, apesar de estar a dar futebol e tu não perceberes nada disso. olhas para a televisão porque achas que é uma boa ginástica para a vista. querias deixar de usar óculos, para poderes ver as pilas dos gajos com nitidez quando eles despem as calças no teu quarto e tu já estás deitada.
o gajo bebe a espuma de cerveja com muito vagar, faz parte do quadro do sensual de pacotilha, fazer tudo muito devagar, com um sorriso nos lábios, confiante, e a olhar de lado para a miúda que quer apanhar ( que muitas vezes são várias ao mesmo tempo). mete a mão ao bolso do casaco ( tudo em câmara lenta), retira o maço de cigarros, olha para o aviso [Prejudica gravemente a sua performance sexual] e sorri como quem diz impossível. olha serenamente o interior do maço, escolhe um dos cigarros como se eles fossem diferentes e faz um movimento em super slow motion para acendê-lo. entretanto pede-te para lhe passares o cinzeiro. tu empurra-lo com algum desprezo. ele esboça uma piada. tu olhas para a televisão e chamas-lhe chato. ele sorri. sente que te está a conquistar.
quando pedes a conta e começas a arrumar todas as tuas tralhas no saco ele percebe que vai ter que agir rapidamente. pede-te o jornal, um guardanapo, pergunta-te as horas. tu respondes a tudo a achar pouquíssima graça aquela brincadeira. o gajo está a ficar aflito, mas sem coragem para perguntar o teu nome ou oferecer-te uma bebida. pagas, vestes o casaco e quando te vais a dirigir para a porta, olhas para trás, ris-te e dizes, sou lésbica. o gajo engasga-se um bocado e chama-te mentirosa. tu paras em frente à porta e fazes a cena do cigarro em slow motion. o gajo olha para a televisão.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
domingo, novembro 23, 2003
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