Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

sábado, novembro 01, 2003

feedback

Naquilo, o fadista aparece a descer pelas escadas com um copo de vinho vazio na mão e o Nininhas, que estava a segurar o balcão da espelunca com o corpo envinhado, solta um grito à tarzan pela sala com tecto rebaixado e convoca toda a gente para uma rodada do que apetecer, vinho tinto, água pé, minis e o que calhar, que a vida não está barata mas se não houvesse pinga é que era mau. O Narciso, que tem cara de cu mas é bom rapaz, ofereceu-se este ano para orientar o serviço à condição de ser a patroa dele a fazer a feijoada que, historicamente, é sempre tarefa das irmãs do Carapau, que não deixam ninguém aproximar-se da cozinha e fazem uma feijoada de ocupar casa-de-banho por quinze dias. É claro que isto acabou em discussão e foi preciso fazer-se uma assembleia geral do clube para tratar das coisas da festa.
Hoje é dia de fados e guitarradas e a malta embezanou-se toda à hora do jantar. Os fadistas alindaram as gargantas na água pé e os guitarristas, que são gente fina e não gostam de confusões, afiaram as unhas no tintol. Enquanto foi chegando pessoal daqui e dali para ouvir o fado, o gajo do som encasinou meio auditório com uma apresentação das capacidades do feedback e começou o espectáculo com uma discussão de fadista-a-uma-ponta-da-sala contra gajo-do-som-na-outra-ponta com meia casa a aplaudir e outra meia a queixar-se do caldo verde. Foi bonito de se ver. A malta bebe.
A festa seguia rija e, naquilo, o fadista aparece a descer pelas escadas com um copo de vinho vazio na mão e o Nininhas, que estava a segurar o balcão da espelunca com o corpo envinhado, solta um grito à tarzan pela sala com tecto rebaixado e o pessoal pára por um bocado a ver aquele gajo aperaltado aos jigajumbas pelo meio da cadeiras, em carambola com cara de boca cheia e olho esvaziado de desvios, as mãos a segurar as ancas, qual peixeira da ribeira, apontando à porta da casa-de-banho e espetando uma valente cornada na parede qual campino em vésperas de tomates de boi para o lanche. O Garibaldi, que estava desde o início do parágrafo a emborcar um copo de tinto pelas goelas abaixo, assusta-se com o estrondo e deixa que os últimos nove centilitros da vinhaça lhe escorram pelo pescoço abaixo até às golas da camisa e a Manela, que estava de serviço à quermesse, esposa de engomamentos categóricos, espeta um daqueles gritos, ò Manel olh’ éssa merda!, e a festa continua com a normalidade do costume

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