Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

domingo, janeiro 23, 2005

uma pessoa

chego a cabeça para trás, no banco do carro, e penso, uma pessoa é muito tempo. já é de noite, agora, acabado de sair de tua casa, estou no carro como quem vai ao psiquiatra, chego-me para trás, à minha frente umas árvores, uns arbustos?, casais de namorados que passeiam o cão e alguém que parece que se quer divertir esta noite. eu chego a cabeça para trás, no banco do carro, as mãos seguras ao volante, uma pessoa, penso, é muito muito tempo.

tinha a mania de dizer que poderia conhecer toda a gente só com uma primeira impressão. tinha a mania de me achar muito certeiro nas intuições. andava sempre de cabeça no ar, a apanhar com o vento forte, tipo marinheiro, altivo e desengonçado. tinha a mania de que gostava de conduzir, tinha a mania de que ia ser grande. tinha a mania de que era novo, tinha a mania de que as coisas certas se encontravam na ponta de um cigarro ou no fundo de um copo de cerveja. tinha a mania de que era muito muito bom. e muitas destas manias, ainda tenho.

uma pessoa é muito tempo, eu já na auto-estrada, a contar dias e horas que passamos juntos sem sequer dar por isso. eu dizia-te coisas doces e tu abraçavas-te muito ao meu pescoço. eu convidava-te para irmos ao cinema e tu adormecias no meu colo. uma pessoa é muito tempo, muito muito tempo, mesmo depois de a conhecermos tão bem. eu na auto-estrada, a música da rádio. eu no banco do carro, a pensar, a pensar que é tão bom estar sossegado, a pensar em não pensar. tudo isto depois de descobrir que uma pessoa, uma pessoa é muito tempo.

1 comentário:

Anónimo disse...

é so mesmo para te dizer que eu continuo aqui...;)

rakyel