agora que escrevo mais, apareço menos aqui no café. já não tenho tanto tempo para as nossas conversas de não ir a lado nenhum. o canto dos pensadores, como nos chamavam. bem, agora que escrevo mais, ando mais por outros lados. tento aproveitar algum tempo para não pensar, para não fumar, para não beber. agora, e vocês sentem a minha falta. desconfio que continuem a falar das mesmas coisas, as mesmas coisas que falávamos sempre. eu continuo a pensar nisso. nas horas fora do café.
depois, quando venho, devem pensar que eu sou uma enciclopédia. obrigam-me a explicar cada verso dos meus poemas, cada expressão das minhas frases. perguntam-me e perguntam-me sem parar. eu respondo como posso, como aguento. mal, a maior parte das vezes. estou sempre a falhar as explicações que penso encontrar. estou sempre ao lado, do lado de lá, o errado. sim, eu sou assim. vocês sentem a minha falta, a falta das hipóteses erradas. já não têm ninguém a quem chamar a atenção.
agora que apareço menos, escrevo mais. agora que escrevo mais, escrevo menos. escrevo menos para vocês, para quem me realmente lê. estou entretido a escrever para mim, não para nenhum leitor idealizado. e se começo a pensar, será que vão gostar?, quando começo a pensar, será que resulta?, sento-me escondido num cantinho de um outro café qualquer ao longe, e não falo com ninguém. fico assim mais seguro, na minha insegurança. acho que me começam a chamar aquele ali do cantinho dos calados.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
quarta-feira, janeiro 19, 2005
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
Melhor que nunca... Melhor que nunca....
Enviar um comentário