ainda estamos à espera da tua chegada, eu e eu e eu, diz uma terceira voz que desconheço. soubemos de ti por um aviso, uma carta deixada no tapete da entrada, quando havíamos saído, nós os dois, que do outro nada sei, na ignorância da tua existência. foste tu quem deixou a carta? algum dos teus monstros, talvez.
pode parecer-te estranho que falemos no plural, embora acredite que a tais modos de ser já estejas tu, há muito, habituada. recordo-te em língua estrangeira, num modo imperceptível aos ouvidos para quem falo. sentei-me, sentámo-nos?, junto da janela, olhei a soleira, a rua, estudei o som imaginado dos teus passos no chão molhado. quantos pés têm os monstros?
pensar em passáros, nos seus corpos frágeis, seguros apenas por ossos muito finos, coberto de penas que se arrancam de um simples puxão, quantas vezes pelo vento. pensar em viagens, em dias e dias de lentes partidas, um mundo que, a essa distância, está transformado numa superfície em que as cores estão todas misturadas, comendo-se umas às outras. ainda estamos à espera da tua chegada, eu e eu e a voz desconhecida que agora se calou.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
quinta-feira, janeiro 06, 2005
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário