eu a comer devagar a sopa, para saborear todos os legumes, eu a olhar para os meus pés, eu a fazer tudo o que tenho para fazer. que horas são?, perguntaste, e eu a coçar os cabelos que vão caindo para o chão, os pés lá em baixo, a saborear a sopa, todos os legumes, enquanto procuro as palavras para dizer, bem devagar, as palavras para dizer, vem devagar. eu sentado, ainda assim, no mesmo sítio do costume. é onde vamos, não é?
coço os cabelos que caem no chão, são horas de almoço, coço os cabelos, os pés no chão, apetecia-me tanto levantar voo esta tarde, dizes tu, sim tu, eu fico calado, está tanto frio aqui, o trabalho é uma chatice, eu a olhar os pés, a saborear todos os legumes, a contar palavras como se contam segundos, que horas são?, podias perguntar, quantos segundos são?, eu dizia-te o mesmo, é hora de almoço, os legumes, os cabelos.
a olhar para os meus pés, sim, doem-me os pés, tu a dizeres, mais alto um tom, apetecia-me tanto levantar voo esta tarde, eu à procura de palavras, a procurar palavras como se num dicionário um viandante, com uma faca pequenina na mão, a saborerar a sopa, tu a dizeres, voo, tu a dizeres, esta tarde, tu a dizeres, que horas são?, eu a coçar a cabeça, os cabelos junto aos pés, o chão, e se tu perguntasses, eu à procura de palavras, sem responder, as mãos, a sopa, os cabelos, o chão.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
quinta-feira, janeiro 20, 2005
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