agora já nada é como dantes, eu chego a casa e a mesma rotina que nos atordoa os passos, lá fora, repete-se aqui dentro. ou sou eu quem está mal ou foste tu que te mudaste com todas as tuas indecisões para o centro da minha vida, arrumamos a roupa aos montinhos dentro das gavetas do roupeiro e fomos fazer amor, descansadamente, para a banheira. regressamos, burocraticamente, aos nossos carris pela hora de jantar. somos pessoas de sociedade, temos responsabilidades. é por isso que usamos sapatos pesados.
vestimos as mesmas roupas de sempre, sim, mas os nossos olhos estão vermelhos e os nossos dedos engelhados. por dentro, como moby dick, trazemos destroços de muitas marés e até outras pessoas que nos incomodam tanto como as pedras nos sapatos dos gigantes. mesmo assim, somos fortes, só podemos ser. gostamos de rasgar páginas de diários e de gritar ao telefone. gostamos de fazer as coisas certinhas, mesmo que nos achemos terrivelmente ineficazes perante a rapidez do mundo que queremos apanhar. nada é como dantes, tudo bem. mas as coisas novas também são muito boas.
mesmo que nos perguntem como é que podemos ser assim, nós não vamos responder. por muito que pensemos nisso, não chegamos a encontrar uma resposta satisfatória, nem para nós nem para os outros. dizem-nos para não pensar muito, para viver, que é mais fácil. mas se temos estado sempre a pensar, difícil é mudar de ramo. para mim, viver é qualquer coisa de longínquo e inantingível, um avião sem aeroporto. nada é como dantes, insistes, e eu sem ver bem o que te possa responder. saio de casa como quem entra, de pés sujos e olhar cansado. foi aqui que nos deixaram, no capítulo anterior, o que ficou por escrever.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
sábado, novembro 20, 2004
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1 comentário:
Oi, Luis.
Eu fiquei sabendo do seu blog pelo o Orkut e vim fazer uma visita. Gostei bastante do seu estilo de escrita.
Se lhe interessar, dê uma passada nos meus:
www.criticadearte.blogspot.com
www.miriades.blogspot.com
Abraços.
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