volto ao mesmo tema, o que é preciso para se escrever uma história? não sinto nenhum inspiração divina a cair-me sobre os ombros e não tenho entrevista marcada com as musas. a angústia da influência não se me apega, quanto muito, diria eu, uma angústia da inexistência, isso sim, sinto muitas vezes, mas aí já estaria a falar mais do que da escrita. o que é preciso para escrever uma história é caneta e papel, diria um cínico. depois, alguma dose de imaginação, uma forte disponibilidade para se trabalhar e ser-se chato. sim, ser-se chato. porque só os chatos contam as suas histórias até ao fim.
a outra solução é fazer as coisas ao contrário daquilo que é, habitualmente, a ordem das coisas. por exemplo, falar em público assumindo os nossos erros e temores. não há nada que espante mais a audiência do que um potencial especialista falar da sua investigação com o corpo retorcido e as frase "não sei se percebo muito disto" a aparecer por entre o discurso. reacção, a aproximação. as pessoas ligam imediatamente o atentómetro, para perceber se não estão a perceber o mesmo que o outro. não é bonito, mas resulta. digo-vos eu, que não percebo nada do assunto.
e depois é tentar, tentar sempre, evitando a todo o custo, não os obstáculos, a desistência. algures pelo tempo em que nos matamos a escrever ou a procurar a história ideal para um romance, o telefone toca, alguém nos escuta, alguém pensa em nós. é assim que acontece. e, quando isso não acontece, pensamos nós em alguém, vamos atrás, como nos filmes. sim, nos filmes. não têm visto isso acontecer? e pensavam que era só nos filmes... não. mais uma vez, começo a falar de uma coisa e acabo a falar de outra completamente diferente. é o que acontece quando se escreve uma história.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
sexta-feira, novembro 12, 2004
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