esta manhã, comprei pinturas. saí de casa cedo e andei a vaguear pela cidade, à procura de me sentir protegido pela sombra das varandas e dos prédios altos. hoje é um dia sem sol. o inverno já vai longo mas ainda não trouxe nem chuva nem o céu muito carregado. hoje é o primeiro dia sem sol. saí de casa e procurei nas montras das lojas as coisas que habitam nos meus sonhos nocturnos. o meu passo é inseguro e incerto, ainda assim. olhei, olhei para todos os lados. e se ninguém me atacou, também ninguém me protegeu.
esta manhã, comprei pinturas. nunca o tinha feito antes, não sei como será depois. ainda não sei como as utilizar. esta frio e ninguém me convida para sair. vou ficar tardes inteiras fechado em casa, a ouvir os mesmo cd's de cantoras mexicanas velhas e bêbedas. imagino estúdios sujos, cheios de fumo de cigarros mal apagados nos lábios de músicos e cantoras. aqui é inverno. tenho medo de estar na rua, passar no passeio por outras pessoas. o meu passo nem sequer é um passo, mais uma maneira de tremer, de me encolher.
esta manhã, comprei pinturas. há sempre uma loja de chineses aberta, seja qual for a cidade, seja qual for o dia, a hora. entre as prateleiras mal há espaço para andar sem me sentir desesperadamente claustrofóbico. eu sou assim, cheio de pensamentos. parei em frente a uma vitrine cheia de pequenas caixas de pinturas, caixas iguais às da minha avó, da minha mãe, caixas iguais a de todas as senhoras. eu não sou uma senhora. o meu pai sempre me disse que eu tinha que me fazer homem. o meu passo inseguro. o meu medo de toda a gente. em frente ao espelho pinto os olhos com um sorriso tremido.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
domingo, novembro 21, 2004
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