Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

terça-feira, novembro 09, 2004

lamentavelmente

há luz dos meus parcos conhecimentos da maneira de se fazer o amor com sucesso, digo-te, deste imenso silêncio em que me encontro isolado, que um sopro, por mínimo que seja, pode influenciar todas as rotas do mundo, assim como pode arrepiar o mais sensível dos barbudos. digo-te isto e peço-te que não o guardes como segredo. agora levanta-te desta cadeira que te ofereci e parte à volta do mundo e das idades a dizer, à luz dos teus parcos conhecimentos, das maneiras de se fazer o amor.

sorri, sim, sorri, porque é essa a maneira de se fazer agrado ao senhor que nos estende a mão. e embora saibas da tua pequenez, da tua pouca razão enquanto é tempo de se fazer a vida de adulto que nos prometeram há tantos anos atrás, tens agora consciência de que esse sorriso, esse parco e frágil sustento das faces nos lábios hirtos, pode fazer desvanecer a grande pose do mestre. e depois dos estores terem sido descidos, de todas as luzes quase apagadas, o que conta é o movimento ágil da juventude, não o trôpego insucesso do traumatizado.

e no momento em que se arrastam os pés pelas colchas mas lavadas dos andares onde já não bate o sol, no irrespirável re-movimento das meias caídas junto à mesa de cabeceira, enfim, provas o sabor mais que amargo de um sémen desnutrido e infértil. a boca cheia de água, pensas, tenho a boca cheia de água, e esse amargar constante a apertar-te a vida no nariz. o mestre, eu, fica deitado, adormecido. e ordena-te, ordeno-te, vai, vai ver o mundo. lá fora alguém espera para te restituir a doçura.

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