Não tenho o que escrever. Escondo-me dentro de mãos que permanecem vazias. Bebo das goteiras. Estou sujo. Sujo por dentro e por fora do que considero como meu, como eu. Os meus passos tornam-se incertos, de tão inseguros. O meu olhar esconde-se das ruas. Está sombrio o meu quarto. Perante a folha branca, papel imaculado, repousa uma caneta sem marcas digitais. Não tenho o que escrever, é só nisso que penso.
Insisto em não atender quem me telefona. Tenho medo do que me possam dizer, receio que me tentem animar. Pressinto que persigo algo que não está lá fora mas aqui, dentro de mim. Procuro uma palavra que trago guardada há imenso tempo. Como fazer emergir essa palavra, entre tantos silêncios escondida? Insisto em não atender quem me telefona, temo o lado de lá.
Não arrisco abrir as cortinas, nem a despir o casaco se saio à rua. Não arrisco um olá, nem um acenar de cabeça na espera do elevador. Para quê debitar palavras ao balcão do café, em frente do expositor das frutas no hipermercado? Eu procuro uma palavra que não há. E acabo arrancando os cabelos, não tendo o que escrever.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
domingo, outubro 26, 2003
sábado, outubro 25, 2003
oh master, my master...
o que me intimida é o facto de quase nada fazer sentido neste mais que nada mundo feito de coisas nenhumas. tenho os pés gelados e o nariz pinga-me. na televisão passa um bailado qualquer que eu sei que é conhecido mas que agora não me lembro o nome. tento não me preocupar muito com isso. não me preocupo. aliás, preocupo-me. sim, a toda a hora. é impossível não pensar num monte de merdas que me sobem à cabeça como se eu fosse uma espécie de último-andar-com-vista-panorâmica-e-tudo-à-borla-para-toda-a-gente-ver-como-é-bonito-foder-o-juízo-de-um-gajo-como-eu. tenho três mil malucos à perna e só deus sabe o que isso me custa.
preferia não ter que te telefonar a toda a hora, até porque eu sei que isso te incomoda. ok. mas tenta perceber que essa é a minha forma de pedir ajuda enquanto eu sei que posso pedi-la. porque vai haver um dia em que eu já não vou conseguir pedir mesmo nada a ninguém. vai haver um dia em que vou estar a olhar para um livro e vai-se dar um grande estrondo dentro da minha cabeça. nesse momento, é com pena que eu o anuncio, vou ficar totalmente idiotinha das ideias. vou começar a babar a toda a hora (e não só quando adormeço no autocarro, como agora), vou andar tentado a colocar a mão no pénis em todo o lado (e não só no meu quarto, como agora), vou começar a verbalizar todos os meus pensamentos perversos e a dizer na cara das pessoas aquilo que eu realmente acho delas. depois, vão levar-me ao médico e vão dizer-me que eu estou oficialmente maluco. eu faço uma festa e acabo a noite a urinar em frente ao posto da psp (por simples descargo de consciência contra a ditadura de terem instalado o posto na rua onde eu ia sempre mijar quando o posto era no outro lado da cidade). e vão acabar por me fechar dentro de uma caixa de anti-depressivos. vai ser fixe, ver o mundo todo cor-de-rosa.
depois eu sei que as pessoas se vão queixar de me terem deixado sem assistência. eu vou-me sempre rir para todos os desconhecidos que conseguir e dizer que não, sempre me quiseram assistir, eu é que nunca deixei. não volto a ser chorão, ai, nem que me paguem. eu não me queixo do mundo. queixo-me é de mim. tenho calos nos pés e não me apetece ir ao calista. devo culpar o criador por isto? em frente à minha casa abriram uma loja de souvenirs para turistas. eu vou lá todos os dias comprar um postal da minha rua. não é que me façam falta, nem ando com um renovado interesse em divulgar a minha cidade aos correspondentes estrangeiros. mas sinto que entre mim e o mundo nasce a necessidade de me sentir desprendido do meu lugar. e compro postais como se fosse um turista. a senhora desconfia. mas tudo se permite a uma carteira. por muito estúpida que ela possa ser.
preferia não ter que te telefonar a toda a hora, até porque eu sei que isso te incomoda. ok. mas tenta perceber que essa é a minha forma de pedir ajuda enquanto eu sei que posso pedi-la. porque vai haver um dia em que eu já não vou conseguir pedir mesmo nada a ninguém. vai haver um dia em que vou estar a olhar para um livro e vai-se dar um grande estrondo dentro da minha cabeça. nesse momento, é com pena que eu o anuncio, vou ficar totalmente idiotinha das ideias. vou começar a babar a toda a hora (e não só quando adormeço no autocarro, como agora), vou andar tentado a colocar a mão no pénis em todo o lado (e não só no meu quarto, como agora), vou começar a verbalizar todos os meus pensamentos perversos e a dizer na cara das pessoas aquilo que eu realmente acho delas. depois, vão levar-me ao médico e vão dizer-me que eu estou oficialmente maluco. eu faço uma festa e acabo a noite a urinar em frente ao posto da psp (por simples descargo de consciência contra a ditadura de terem instalado o posto na rua onde eu ia sempre mijar quando o posto era no outro lado da cidade). e vão acabar por me fechar dentro de uma caixa de anti-depressivos. vai ser fixe, ver o mundo todo cor-de-rosa.
depois eu sei que as pessoas se vão queixar de me terem deixado sem assistência. eu vou-me sempre rir para todos os desconhecidos que conseguir e dizer que não, sempre me quiseram assistir, eu é que nunca deixei. não volto a ser chorão, ai, nem que me paguem. eu não me queixo do mundo. queixo-me é de mim. tenho calos nos pés e não me apetece ir ao calista. devo culpar o criador por isto? em frente à minha casa abriram uma loja de souvenirs para turistas. eu vou lá todos os dias comprar um postal da minha rua. não é que me façam falta, nem ando com um renovado interesse em divulgar a minha cidade aos correspondentes estrangeiros. mas sinto que entre mim e o mundo nasce a necessidade de me sentir desprendido do meu lugar. e compro postais como se fosse um turista. a senhora desconfia. mas tudo se permite a uma carteira. por muito estúpida que ela possa ser.
segunda-feira, outubro 20, 2003
Telefona-me
Estou aqui deitado a olhar para o telefone, deitado no escuro do meu quarto à espera que uma luz verde o invada e ele se encha do som irritante do telemóvel, irritante e, no entanto, sempre tão esperado, desejado, seja noite seja dia, à espera do sinal, do saber que vais chegar, do saber que ali estás, do outro lado, lá tão longe, mas ali, ali mesmo perto de mim. Telefona-me.
Estou sentado no sofá da sala, a olhar, entristecido, para a televisão, a brincar com o telemóvel na minha mão, deixo-o passear pelas minhas pernas, passo-a à outra mão, toco com ele nos joelhos, olho a televisão, mas depois também o écran do telemóvel, olho-o, inocente, como se sentisse que ia tocar naquele momento, como se te esperasse há muito tempo, eu espero-te há tanto tempo. Telefona-me.
Olho os jornais dos classificados pendurados na parede da biblioteca municipal, olho-os de uma ponta à outra, misturo-os com outros, passeio entre as fileiras dos livros, literatura, geografia, história, psicologia, filosofia, procuro as revistas, procuro as novidades, espreito os computadores, e o telemóvel no bolso da mala, a mão sempre a passar pelo forro, a tentar perceber se o modo vibração está a funcionar, a tentar perceber se alguém me vai falar, se alguém me vai dizer, seja o que for, seja o que for, seja o que for... Telefona-me.
Estou sentado no sofá da sala, a olhar, entristecido, para a televisão, a brincar com o telemóvel na minha mão, deixo-o passear pelas minhas pernas, passo-a à outra mão, toco com ele nos joelhos, olho a televisão, mas depois também o écran do telemóvel, olho-o, inocente, como se sentisse que ia tocar naquele momento, como se te esperasse há muito tempo, eu espero-te há tanto tempo. Telefona-me.
Olho os jornais dos classificados pendurados na parede da biblioteca municipal, olho-os de uma ponta à outra, misturo-os com outros, passeio entre as fileiras dos livros, literatura, geografia, história, psicologia, filosofia, procuro as revistas, procuro as novidades, espreito os computadores, e o telemóvel no bolso da mala, a mão sempre a passar pelo forro, a tentar perceber se o modo vibração está a funcionar, a tentar perceber se alguém me vai falar, se alguém me vai dizer, seja o que for, seja o que for, seja o que for... Telefona-me.
quarta-feira, outubro 15, 2003
até que idade pensas constipar-te?
voltas a sair de casa depois de teres chegado do trabalho, com o saco do ginásio ás costas, e pensas pela primeira vez este ano que o tempo está a ficar frio quando anoitece. não te ralas muito. afinal ainda esta tarde estavam uns 27 graus.segues pelo passeio, ou pelo que sobra do passeio depois de todos os teus vizinhos terem estacionado o carro sobre ele. a esta hora pouca gente anda na rua, é a hora da novela, a hora do jantar, a hora da família. é claro que nada disso te interessa. vendeste a televisão por causa do empréstimo da casa, não costumas jantar por causa do ginásio e ainda vives sozinho. ainda, no sentido complementar da frase, porque, é claro, não te passa pela ideia voltares a viver seja com quem for.
tens 32 anos, exactamente a média de idades das catorze pessoas que partilham contigo a sala de cardiofitness. tens 1m79, acima da média de alturas que se situa no 1m69, principalmente devido a um grupo de divorciadas baixinhas que não pára de coxixar na máquina de remos. pesas 91 kg e é exactamente por isso que estás aqui neste ginásio. o teu médico mandou-te fazeres exercício e deixares de fumar,para além de que também tinhas de fazer dieta e passares a ter refeições nutritivas. tu pensas que te chega vires para aqui três vezes por semana fazer olhinhos às meninas enquanto acaricias as máquinas a fingir que te esforças.
sais do ginásio de banhinho tomado e cabelo penteado para trás, a fazeres esses teus jeitos de playboy mal amanhado. já devias ter percebido que isso nunca resulta em nada. há mais de cinco meses que não convences ninguém a dar-te um beijinho sequer. não sabes já qual era o sabor dos últimos lábios onde te encostaste. sentes uns pingos de chuva sobre a tua camisa e pensas que afinal o tempo anda mesmo merdoso, como te tinha dito a Dona Amélia da limpeza lá do escritório.dizes mal da tua vida quando dois carros com condutores de pouca civilidade te fazem parar à beira da passadeira. e sentes que o frio te começa a incomodar a toda a longitude da coluna, enquanto te encolhes todo para passar entre a frente do carro do gajo do 2º esquerdo e a parede, mesmo à porta do teu prédio, onde fazes ATCHIM!
tens 32 anos, exactamente a média de idades das catorze pessoas que partilham contigo a sala de cardiofitness. tens 1m79, acima da média de alturas que se situa no 1m69, principalmente devido a um grupo de divorciadas baixinhas que não pára de coxixar na máquina de remos. pesas 91 kg e é exactamente por isso que estás aqui neste ginásio. o teu médico mandou-te fazeres exercício e deixares de fumar,para além de que também tinhas de fazer dieta e passares a ter refeições nutritivas. tu pensas que te chega vires para aqui três vezes por semana fazer olhinhos às meninas enquanto acaricias as máquinas a fingir que te esforças.
sais do ginásio de banhinho tomado e cabelo penteado para trás, a fazeres esses teus jeitos de playboy mal amanhado. já devias ter percebido que isso nunca resulta em nada. há mais de cinco meses que não convences ninguém a dar-te um beijinho sequer. não sabes já qual era o sabor dos últimos lábios onde te encostaste. sentes uns pingos de chuva sobre a tua camisa e pensas que afinal o tempo anda mesmo merdoso, como te tinha dito a Dona Amélia da limpeza lá do escritório.dizes mal da tua vida quando dois carros com condutores de pouca civilidade te fazem parar à beira da passadeira. e sentes que o frio te começa a incomodar a toda a longitude da coluna, enquanto te encolhes todo para passar entre a frente do carro do gajo do 2º esquerdo e a parede, mesmo à porta do teu prédio, onde fazes ATCHIM!
segunda-feira, outubro 13, 2003
quarto
passei o dia todo a pensar que tinha que arrumar o quarto. não um pensamento simples ou fugidio, nada disso. desde o momento em que acordei logo se assomou à minha cabeça a ideia de arrumar o quarto. não uma ideia pacata ou benemérita. o que se passa é que encaro o arrumar o quarto como uma necessidade premente da minha sobrevivência, uma problemática suma do meu existencialismo privado neste dia de outono. em todos os telefonemas que fiz, em todas as conversas que tive, em casa ou na rua, em todo o lado, referi a necessidade de ter que arrumar o meu quarto como elemento primordial da minha existência, não para hoje, mas para a eternidade, para todo o sempre.
eu sei que pode parecer idiota, eu sei que muita gente pode não me compreender, mas a verdade é que arrumar o quarto é algo que me incomoda sumamente. apesar de eu, exteriormente, parecer uma pessoa totalmente banal, apesar dos meus interesses se basearem na importância das filosofias de vida orientais ligadas ao funcionamento artístico de uma sociedade cada vez mais impregnada por necessidades consumistas, apesar de eu preferir ir ver peças de teatro pós-moderno em detrimento de sair com amigos para um café beber imperiais e ver o futebol, apesar de tudo isso, apesar de acreditar que o mundo espiritual é bem mais forte do que qualquer emoção carnal que eu possa ter, eu acho que hoje nada é mais essencial para mim do que arrumar o meu quarto.
quantas noites de amor foram passadas sobre aquele colchão, quantos poemas escritos naquela secretária, quantos cigarros fumados com os cotovelos apoiados naquela janela, quantos telefonemas eróticos abafados pelo escuro da luz apagada, quantos livros lidos imaginando que estava à luz de velas, quantas promessas de " a partir de hoje nunca mais farei isto" e " a partir de hoje farei sempre aquilo", quantas coisas indizíveis e quantas delas enumeráveis, quantas coisas ali se passaram que ninguém nunca vai saber, quantas, quantas, quantas. e, apesar dessa importância se ter tornado num sintoma de uma doença qualquer contra a qual me parece impossível precaver, não procuro outra cura senão a arrumação in loco do meu quarto. e mesmo assim deixo-o desarrumado.
eu sei que pode parecer idiota, eu sei que muita gente pode não me compreender, mas a verdade é que arrumar o quarto é algo que me incomoda sumamente. apesar de eu, exteriormente, parecer uma pessoa totalmente banal, apesar dos meus interesses se basearem na importância das filosofias de vida orientais ligadas ao funcionamento artístico de uma sociedade cada vez mais impregnada por necessidades consumistas, apesar de eu preferir ir ver peças de teatro pós-moderno em detrimento de sair com amigos para um café beber imperiais e ver o futebol, apesar de tudo isso, apesar de acreditar que o mundo espiritual é bem mais forte do que qualquer emoção carnal que eu possa ter, eu acho que hoje nada é mais essencial para mim do que arrumar o meu quarto.
quantas noites de amor foram passadas sobre aquele colchão, quantos poemas escritos naquela secretária, quantos cigarros fumados com os cotovelos apoiados naquela janela, quantos telefonemas eróticos abafados pelo escuro da luz apagada, quantos livros lidos imaginando que estava à luz de velas, quantas promessas de " a partir de hoje nunca mais farei isto" e " a partir de hoje farei sempre aquilo", quantas coisas indizíveis e quantas delas enumeráveis, quantas coisas ali se passaram que ninguém nunca vai saber, quantas, quantas, quantas. e, apesar dessa importância se ter tornado num sintoma de uma doença qualquer contra a qual me parece impossível precaver, não procuro outra cura senão a arrumação in loco do meu quarto. e mesmo assim deixo-o desarrumado.
sábado, outubro 11, 2003
qual é o teu desconhecido preferido?
a coisa mais próxima do amor que eu conheço é um abraço a uma desconhecida. é fechar-me dentro de um quarto com alguém que me incita ao beijo. é poder ser livre de pensar aquilo que eu quiser sem ter que planear consequências ou sem temer o que vai acontecer amanhã. porque amanhã já não existirá nem o amor nem o abraço. tudo o que fica é um licor doce que me escorre dos lábios, sedentos que estão de serem beijados. e que assim se perduram pelos dias em que me apago.
a coisa mais próxima do amor que eu conheço é um quarto vazio. onde as paredes são quentes e os cabelos sedosos. onde os olhares já se apagaram por detrás das lentes escuras dos óculos e as cadeiras se colocam nos locais previamente encenados. onde há música e onde a vida é tão lenta que só nos resta saboreá-la. e depois as palavras, a voz como as paredes, a pele como os cabelos, as mãos que se deviam ter tocado, os lábios que se deviam ter conhecido.
a coisa mais próxima do amor que eu conheço é ver-te sentada no chão a pedir-me para sair. é poder voltar a abrir a porta apesar de todo o meu corpo querer ficar. é descer as escadas com a sensação de inacabado. com o desejo todo por explorar. com a vontade toda a explodir dentro de mim. a coisa mais próxima do amor que eu conheço é ficar sem saber como responder ao teu carinho, à tua doçura. porque tudo isso me transporta para onde eu não sei estar.
a coisa mais próxima do amor que eu conheço é um quarto vazio. onde as paredes são quentes e os cabelos sedosos. onde os olhares já se apagaram por detrás das lentes escuras dos óculos e as cadeiras se colocam nos locais previamente encenados. onde há música e onde a vida é tão lenta que só nos resta saboreá-la. e depois as palavras, a voz como as paredes, a pele como os cabelos, as mãos que se deviam ter tocado, os lábios que se deviam ter conhecido.
a coisa mais próxima do amor que eu conheço é ver-te sentada no chão a pedir-me para sair. é poder voltar a abrir a porta apesar de todo o meu corpo querer ficar. é descer as escadas com a sensação de inacabado. com o desejo todo por explorar. com a vontade toda a explodir dentro de mim. a coisa mais próxima do amor que eu conheço é ficar sem saber como responder ao teu carinho, à tua doçura. porque tudo isso me transporta para onde eu não sei estar.
sexta-feira, outubro 10, 2003
say cheese...
este aqui sentado sou eu, a fazer de mim mesmo, como se eu estivesse sentado em frente ao computador, como se o mundo da internet realmente me interessasse, como se a tua conversa me parecesse interessante. este aqui sentado sou eu, entre duas raparigas que ou desconheço ou conheço pouco, com quem tento manter uma conversa minimamente desinteressante, tendo em conta o estranho evoluir das coisas neste mundo que construo como se eu pudesse construir fosse o que fosse.
este aqui sentado sou eu, na mesa de uma esplanada, a conversar, como se eu conseguisse ler a mente das raparigas e como se eu percebesse tudo aquilo que elas dizem. eu aqui sentado, entre as duas raparigas, a fazer cara de entendido, como se eu já tivesse passado por todos aqueles problemas umas vinte vezes, como se eu soubesse o que as mulheres pensam e como se eu soubesse o que os homens pensam, puxo o tema do sexo, não que eu o queira com alguma delas (não, não quero, o sexo causa-me alergia), mas só porque me parece interessante fazê-las falar do que, à partida, elas não falariam à frente de um homem.
este aqui sentado sou eu, a ouvir o vento a soprar nos meus ouvidos, a tentar manter os olhos abertos, a querer dizer que alguém estará aí para mim quando eu sair daqui, da fotografia. sim, porque a vida nas fotografias pode tornar-se bastante desinteressante. um gajo senta-se, sorri e pronto, fica ali para a eternidade, ou pelo menos para aquilo que se pode entender por eternidade quando lidamos com papel fotográfico kodak. este aqui sentado sou eu e ao meu lado duas raparigas, em frente ao computador e na esplanada, sem eu saber porquê, pois eu nem as conheço. este aqui sentado sou eu e se estivesse aí de fora chegava a fotografia mesmo à lente dos meus óculos para tentar descortinar quem elas são. e talvez visse que afinal as duas dos computadores não são as duas da esplanada. e talvez pensasse que afinal, para mim, que estou aqui sentado, isso não interessa mesmo nada.
este aqui sentado sou eu, na mesa de uma esplanada, a conversar, como se eu conseguisse ler a mente das raparigas e como se eu percebesse tudo aquilo que elas dizem. eu aqui sentado, entre as duas raparigas, a fazer cara de entendido, como se eu já tivesse passado por todos aqueles problemas umas vinte vezes, como se eu soubesse o que as mulheres pensam e como se eu soubesse o que os homens pensam, puxo o tema do sexo, não que eu o queira com alguma delas (não, não quero, o sexo causa-me alergia), mas só porque me parece interessante fazê-las falar do que, à partida, elas não falariam à frente de um homem.
este aqui sentado sou eu, a ouvir o vento a soprar nos meus ouvidos, a tentar manter os olhos abertos, a querer dizer que alguém estará aí para mim quando eu sair daqui, da fotografia. sim, porque a vida nas fotografias pode tornar-se bastante desinteressante. um gajo senta-se, sorri e pronto, fica ali para a eternidade, ou pelo menos para aquilo que se pode entender por eternidade quando lidamos com papel fotográfico kodak. este aqui sentado sou eu e ao meu lado duas raparigas, em frente ao computador e na esplanada, sem eu saber porquê, pois eu nem as conheço. este aqui sentado sou eu e se estivesse aí de fora chegava a fotografia mesmo à lente dos meus óculos para tentar descortinar quem elas são. e talvez visse que afinal as duas dos computadores não são as duas da esplanada. e talvez pensasse que afinal, para mim, que estou aqui sentado, isso não interessa mesmo nada.
quinta-feira, outubro 09, 2003
"eu vim de longe, de muito longe..."
abri muito os olhos quando te vi em frente à minha porta. não estava nada à espera que aparecesses. já há uns dias que não telefonavas, nem mensagens nem mails, nada. dantes ficava preocupado, mas agora já nem isso. já não me interessa. deixo que vás e venhas ao sabor dos teus estranhos desejos. eu fico aqui em casa, normalmente sentado na poltrona que era do meu avô, a perceber o sol a atravessar-me as janelas e a penetrar na minha sala como ponteiros de relógio. fico aqui em casa a ouvir aquela rádio velha que já vem desde sempre acompanhando os maluquinhos da família. tu, quando apareces, é sempre assim, sem avisar, procurando sempre a surpresa. eu abro muito os olhos quando te vejo.
já nem me lembro muito bem do dia em que te conheci, embora traga sempre tudo registado num velho caderno de capa dura que tenho na mala. não que eu escreva tudo o que acontece comigo. mas pelos menos registo algumas das impressões que vou tendo da vida. acho que deve haver alguma coisa sobre ti nesse caderno. aliás, tenho a certeza de que há. só não me lembro muito bem do dia em que nos conhecemos. talvez tenha sido um dia de sol, talvez tenha sido um dia de chuva. deveria fazer imenso vento lá fora. mas não foi na rua que nos conhecemos. acho que foi num quarto de hotel. não sei bem como me deu a vontade de bater naquela porta. mas sei que abri muito os olhos quando te vi.
agora que aqui estás fico na dúvida de te mandar entrar ou de sair contigo. não sei como seria ter-te aqui em casa. fico sempre nervoso quando estou à tua frente e não sou capaz de deixar de olhar os teus olhos. é-me estranho este arrebatamento. mas não, não estou apaixonado por ti. nem seria capaz de te propor fosse o que fosse. sinto-me tão mal na nossa intimidade inexistente. acho que o melhor é levar-te para uma esplanada, um sítio onde eu possa ficar a olhar-te através dos meus óculos escuros. pois foi. quando eu te conheci, estavas de óculos escuros. mas as luzes estavam apagadas. como eu te compreendo.
já nem me lembro muito bem do dia em que te conheci, embora traga sempre tudo registado num velho caderno de capa dura que tenho na mala. não que eu escreva tudo o que acontece comigo. mas pelos menos registo algumas das impressões que vou tendo da vida. acho que deve haver alguma coisa sobre ti nesse caderno. aliás, tenho a certeza de que há. só não me lembro muito bem do dia em que nos conhecemos. talvez tenha sido um dia de sol, talvez tenha sido um dia de chuva. deveria fazer imenso vento lá fora. mas não foi na rua que nos conhecemos. acho que foi num quarto de hotel. não sei bem como me deu a vontade de bater naquela porta. mas sei que abri muito os olhos quando te vi.
agora que aqui estás fico na dúvida de te mandar entrar ou de sair contigo. não sei como seria ter-te aqui em casa. fico sempre nervoso quando estou à tua frente e não sou capaz de deixar de olhar os teus olhos. é-me estranho este arrebatamento. mas não, não estou apaixonado por ti. nem seria capaz de te propor fosse o que fosse. sinto-me tão mal na nossa intimidade inexistente. acho que o melhor é levar-te para uma esplanada, um sítio onde eu possa ficar a olhar-te através dos meus óculos escuros. pois foi. quando eu te conheci, estavas de óculos escuros. mas as luzes estavam apagadas. como eu te compreendo.
quarta-feira, outubro 08, 2003
Observar
Eu sou a primeira pedra. E daqui, vejo tudo o que há para ver. Vejo o vazio que se preenche. A nuvem que desaparece e se transforma. Em chuva. A chuva que alimenta, cria, faz nascer. Tudo o que cresce. E nasce e morre. Tudo o que é vida. E que, sendo vida, depois dá vida a tudo o que é pedra. Como eu sou.
Eu sou o primeiro olhar. O que está para cá do conhecimento. O que ainda não viu. Mas que se vai descobrindo na observação. Sou aquele que ganha espaço no espaço dos outros, na visão transformadora. Naquilo que cresce do que não há. O hábito da dúvida feito lógica do empreendimento. Eu sou o primeiro olhar.
Eu sou o que está de fora. Para tentar ver o que ainda não foi visto. Por estar ao lado. Por estar de lado. Penetro no desconhecido que é teu íntimo. Sem incomodar, uso só o olhar. E depois, fabrico-me a partir de ti. Naquilo que te roubo. Naquilo que te ganho. Mesmo que sem te tocar. Porque. Eu sou o que está de fora.
Eu sou o primeiro olhar. O que está para cá do conhecimento. O que ainda não viu. Mas que se vai descobrindo na observação. Sou aquele que ganha espaço no espaço dos outros, na visão transformadora. Naquilo que cresce do que não há. O hábito da dúvida feito lógica do empreendimento. Eu sou o primeiro olhar.
Eu sou o que está de fora. Para tentar ver o que ainda não foi visto. Por estar ao lado. Por estar de lado. Penetro no desconhecido que é teu íntimo. Sem incomodar, uso só o olhar. E depois, fabrico-me a partir de ti. Naquilo que te roubo. Naquilo que te ganho. Mesmo que sem te tocar. Porque. Eu sou o que está de fora.
domingo, outubro 05, 2003
olhar
Tu sabes que as pessoas esperam que faças coisas bonitas. Ao fim de uns tempos, começaram a pensar que tu és capaz de tudo isso. Há quem pense que és brilhante. Há quem te veja a brilhar. Há quem desespere por um sinal teu. Não um piscar de olho, não. Uma palavra. Uma história.
Gostas de ficar a pensar nas possibilidades do mundo. Procuras sítios silenciosos. Locais onde possas ficar a observar todo o tempo que te apetecer. Pontos onde possas viver-te. Porque no fundo é isso que te interessa. Um suave egoísmo percorre-te por dentro. Agrada-te que o consigas transformar em palavras. Agrada-te conseguir oferecê-las aos outros.
No entanto, há quem não perceba. Não é fácil perceber que a história nasce do pormenor. Nasce de qualquer coisa que mais ninguém viu, senão tu. Nasce do momento em que, sem qualquer explicação plausível, percebeste que era possível fazer nascer palavras de um olhar, de um suspiro, de um movimento, de uma situação.
Pedem-te verdade naquilo que escreves. Mas que verdade podes tu oferecer senão a verdade da ficção? A verdade da pequena mentira que criaste? E esperam que tu faças coisas bonitas. Quando tu só esperas conseguir contar mais uma história.
Gostas de ficar a pensar nas possibilidades do mundo. Procuras sítios silenciosos. Locais onde possas ficar a observar todo o tempo que te apetecer. Pontos onde possas viver-te. Porque no fundo é isso que te interessa. Um suave egoísmo percorre-te por dentro. Agrada-te que o consigas transformar em palavras. Agrada-te conseguir oferecê-las aos outros.
No entanto, há quem não perceba. Não é fácil perceber que a história nasce do pormenor. Nasce de qualquer coisa que mais ninguém viu, senão tu. Nasce do momento em que, sem qualquer explicação plausível, percebeste que era possível fazer nascer palavras de um olhar, de um suspiro, de um movimento, de uma situação.
Pedem-te verdade naquilo que escreves. Mas que verdade podes tu oferecer senão a verdade da ficção? A verdade da pequena mentira que criaste? E esperam que tu faças coisas bonitas. Quando tu só esperas conseguir contar mais uma história.
quarta-feira, outubro 01, 2003
análise do poema
man, ouve lá bem, a malta não curte poesia, ok? deixa-te dessas merdas, de poeminhas do caralho e foda-se, meu, ainda por cima, eu vou-te dizer, caralho, vou-te dizer, se ainda fosse um poema de amor, uma coisa que desse para mandar por sms para a garina, é pá, meu, isso sim, isso era serviço público, caralho, sempre ajudava no engate e nessas cenas. agora poemas daqueles, meu, aquela merda parece masturbação intelectual, caralho, aquilo quer dizer alguma coisa, meu, achas mesmo que quer dizer alguma coisa? cum caralho, pá, tu és mesmo uma desilusão. vou ser sincero contigo, caralho, a malta até te curte. é pá, podes não ser boa onda, podes ser meio esquisito, mas a malta até te curte. agora, escuta-me isto, caralho, diz qualquer coisa que um gajo perceba, foda-se, tens que dizer cenas que um gajo ache graça, que um gajo curta, cenas fixes, meu, nada dessas merdas esquisitas de poemas.
é que estás a ver, eu até andei aí a dizer bem de ti. foda-se, andei mesmo. cum caralho, a dizer ao pessoal, vejam lá aquela cena, tem umas coisas fixes, pá, tem umas histórias do caralho, meu, andei a dizer bem de ti, a falar das cenas de foda que tu escreves e das cenas de porrada e o caralho, e agora, meu, metes-te nesta merda, meu? foda-se, pá, eu andei a dizer bem de ti e agora a malta vem cá ver e tens aqui esta merda? o que é que vão dizer de mim, caralho? o que é que tu achas que o pessoal vai dizer de mim? é que não estás bem a ver, meu, não estás nada bem a ver esta merda. tu vês bem as porcarias que escreves? tu vês mesmo bem as merdas que escreves, caralho. lê lá, meu, lê lá aquela merda. vou-te só dar dois exemplos, meu, dois exemplos. anal. queres que eu sublinhe? ANAL. meu, anal é levar no cu, meu, levar no cu. achas que o pessoal acha graça a isso? achas que sim, foda-se, achas que tem alguma piada essa merda, maricas do caralho? foda-se. outro exemplo, onde está a freira em nós? a freira? A FREIRA? cum caralho, que piada é que essa merda tem. primeiro levar no cu, depois freiras. meu, freiras são velhas, feias, chatas. não estão in, não são cool. que merda meu. e eu andei a dizer bem de ti. dessa merda não me esqueço.cum caralho.
é que estás a ver, eu até andei aí a dizer bem de ti. foda-se, andei mesmo. cum caralho, a dizer ao pessoal, vejam lá aquela cena, tem umas coisas fixes, pá, tem umas histórias do caralho, meu, andei a dizer bem de ti, a falar das cenas de foda que tu escreves e das cenas de porrada e o caralho, e agora, meu, metes-te nesta merda, meu? foda-se, pá, eu andei a dizer bem de ti e agora a malta vem cá ver e tens aqui esta merda? o que é que vão dizer de mim, caralho? o que é que tu achas que o pessoal vai dizer de mim? é que não estás bem a ver, meu, não estás nada bem a ver esta merda. tu vês bem as porcarias que escreves? tu vês mesmo bem as merdas que escreves, caralho. lê lá, meu, lê lá aquela merda. vou-te só dar dois exemplos, meu, dois exemplos. anal. queres que eu sublinhe? ANAL. meu, anal é levar no cu, meu, levar no cu. achas que o pessoal acha graça a isso? achas que sim, foda-se, achas que tem alguma piada essa merda, maricas do caralho? foda-se. outro exemplo, onde está a freira em nós? a freira? A FREIRA? cum caralho, que piada é que essa merda tem. primeiro levar no cu, depois freiras. meu, freiras são velhas, feias, chatas. não estão in, não são cool. que merda meu. e eu andei a dizer bem de ti. dessa merda não me esqueço.cum caralho.
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