ando pilas doidas, dizia o capitão gancho enquanto pousava o chapéu em cima da mesa do baile, desde aquela noite, meus caros, desde aquela noite, e o patrão que se chegava ao nosso lado, a olhar desconfiado, pôs uma garrafa de vinho barato e um prato de chouriço assado para que nos servissemos, enquanto o capitão gancho, pilas doidas, pilas doidas, onde é que já se viu, agora mijo sempre para o lado.
ainda que nos fizesse alguma impressão ouvi-lo todas as semanas com histórias cada vez mais sem jeito nenhum, não deixávamos de aparecer para que ele nos falasse fosse do que fosse. ainda me lembro muito bem daquele outro dia em que o capitão nos apareceu todo sujo de um líquido viscoso sobre a casaca de flanela vermelha e gritou, mal pôs um pé no recinto, meus amigos, a moby dick, está toda podre por dentro.
agora são onze da noite e eu tenho algumas dúvidas sobre o futuro desta nossa religião, mascarada que está de pão e vinho sem qualidades. Robert Musil acena-nos do outro lado da arena e sai acompanhado de um touro-tipo-os-homens-não-valem-nada. quando a lady sinatra sobe ao palco já poucos de nós estão sóbrios para a ouvir cantar. ainda assim, alguns corpos se balançam de um lado para o outro, como que perdidos. o capitão segura uma caneca no gancho enquanto balbucia, pilas doidas, camaradas, pilas doidas.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
sábado, maio 29, 2004
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1 comentário:
obrigado pi.
espero que me continues a encontrar aqui, ou por outro lado, onde continuem a existir palavras...
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